terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Subida do mar, parte de Portugal pode desaparecer até ao final do século


Viana do Castelo, Aveiro, Vila Franca de Xira, linha de Cascais. O mapa de Portugal pode mudar nos próximos anos com a subida do nível médio do mar. Novos cenários publicados ontem na revista científica "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS) revêem em alta as últimas previsões do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), numa semana em que as atenções estão viradas para as negociações da cimeira de Copenhaga.

No pior cenário - que tem em conta as actuais dinâmicas da camada de gelo do planeta e o aumento das emissões de gases com efeito de estufa - o planeta aquece 4o C até 2100 e o mar sobe 1,90 metros. Desaparecem dezenas de pequenas ilhas e a Baixa de Manhattan, em Nova Iorque, encolhe consideravelmente. Trindade e Tobago e parte da costa brasileira são engolidos pela água. O Sul do Vietname deixa de estar no mapa.

O impacto de uma subida desta magnitude sente-se ao longo de toda a costa portuguesa, com maior intensidade na zona Oeste de Lisboa e na Península de Setúbal. Através de uma ferramenta da Universidade do Arizona - disponível em geongrid.geo.arizona.edu -, é possível ver as zonas onde o mar poderá galgar a terra nos próximos anos, caso não sejam feitas adaptações, como a construção de novos diques ou barragens, ressalvam os investigadores.

Previsões corrigidas Martin Vermeer, um dos autores do artigo publicado na PNAS, explica ao i que apesar de ainda existirem muitas incertezas neste tipo de projecções, hoje sabe-se que os cenários disponíveis no último relatório do IPCC, de 2007, estão aquém da realidade.

No novo artigo, a equipa de investigadores da Universidade de Tecnologia de Helsínquia, na Finlândia, e do Instituto de Investigação do Impacto Climático de Potsdam, na Alemanha, traça projecções para a subida do nível médio do mar a partir do aquecimento global. Se o planeta aumentar 2o C até 2100 - o cenário mais ligeiro -, espera- -se uma subida do mar na ordem dos 80 centímetros, o dobro do que ditavam as projecções de 2007. Noutro extremo, em que se prevê um aquecimento global de 4o C, os investigadores falam de uma subida média de 1,4 metros. Pesadas todas as variáveis, conclui o trabalho, a subida deverá oscilar entre os 75 centímetros e 1,90 metros até ao final do século.

Nesta revisão dos dados estiveram envolvidos novos conhecimentos sobre as dinâmicas do gelo no planeta e da água conservada em reservatórios artificiais. Os investigadores utilizaram também registos de temperatura e da subida do nível do mar dos últimos 130 anos. "Desde 1990, o nível do mar tem aumentado 3,4 milímetros por ano, duas vezes mais rápido do que a média do século XX", explica Stefan Rahmstorf, também autor do trabalho. "Os dados são claros: quanto mais aquece, mais o nível do mar aumenta. Se queremos prevenir uma subida galopante, temos de parar o aquecimento global o mais depressa possível", sublinha.

Novas observações da Antárctida e Gronelândia mostram que o degelo dos glaciares tem contribuído para acelerar a subida do nível médio do mar.

Entre 2007 e 2009, o degelo no Verão foi 40% maior do que as previsões do último relatório do IPCC. O nível do mar aumentou mais de 5 centímetros nos últimos cinco anos, mais 80% do que estava previsto. As emissões de CO2 provocadas por combustíveis fósseis estão hoje 40% acima dos níveis de 1990.

Para Martin Vermeer, é difícil pensar numa correcção do actual impacto destas emissões no clima. "O dióxido de carbono vai permanecer na atmosfera durante muito tempo, mantendo a temperatura bastante acima dos valores pré-industriais", diz.

Para travar esta tendência, que continua para lá da viragem do século, seria preciso remover o CO2 da atmosfera e capturá-lo no subsolo. "Representaria um enorme esforço tecnológico, muito maior do que evitar a emissão de gases", diz.

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